terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Por que Teologia e por que aqui?


Por Jânsen Leiros Jr.

Interessei-me por religião muito cedo. Ainda menino, me flagrava pensando em assuntos que um garoto da minha faixa etária jamais se ocuparia em pensar. Vida após a morte, reencarnação, espíritos e morte, eram temas que se alternavam em minhas divagações, ainda que pelo pouco conhecimento, minhas conclusões fossem superficiais e pouco convincentes a mim mesmo.

À medida que eu crescia, também crescia a lista de assuntos ligados ao “mundo religioso” a ocupar minha mente. E toda vez que os adultos de minha família comentavam sobre algum desses assuntos, eu parava qualquer brincadeira e encostava para ouvir, Intuitivamente buscava referências.

Lembro, porém, que um determinado assunto me incomodava mais do que todos os outros; a morte. Eu já tinha uns treze ou catorze anos, não tenho como precisar, quando numa noite eu tentei simular o que imaginava ser um “estado de morte”. Estava só à noite no apartamento que morava com minha mãe e meu irmão na Rua Hermínia, e aproveitei para apagar as luzes, deitar na cama, esticar o corpo (como via os corpos colocados nos caixões), e fiquei quieto... bem quieto. Concentrei-me para não ouvir nada à minha volta e tentei aos poucos esvaziar a mente de qualquer pensamento. Até mesmo sobre o que estava pretendendo fazer. Não lembro exatamente que tipo de sensação eu tive naquele instante, ou mesmo se a simulação funcionou, mas uma frase cortou o vazio que eu tentei criar e eu pensei: Quando eu morrer não vou mais existir! O susto que essa “revelação” me causou foi tão grande, e o pânico de deixar de existir foi tão amedrontador, que acendi todas as luzes, corri para o apartamento de um vizinho que morava no andar de cima, e fingindo querer brincar com ele e meu irmão que já estava por lá, refugiei-me ali de meus próprios pensamentos. No dia seguinte decidi que buscaria uma religião.

Outras curiosidades sobre essa fase, contarei em outras oportunidades. Por hora é importante apenas mostrar como a teologia, desde muito cedo, povoava meus pensamentos e estimulava meu desejo de investigar seus mistérios. E olha que eu sequer imaginava existir a expressão teologia.

Entrei para a Igreja Batista de Cachambi aos catorze anos e logo me vi envolvido profundamente com tudo que se referisse ao estudo da Bíblia. Convencido que era a Palavra de Deus, fui aluno dedicado da Escola Bíblica Dominical – EBD, e desde esses dias a teologia é minha paixão mais terna, mais cuidada, mais bem tratada.

Meus estudos avançaram, meu empenho cresceu. A vida cotidiana por vezes ofereceu obstáculos e muitas pedras me fizeram tropeçar. Ainda assim os livros sobre o assunto se multiplicaram, e lidos se acumularam pelas prateleiras de minhas casas. Abertos e estudados, se espalharam pelas mesas de estudo, desarrumando a casa tão bem cuidada e mantida por minha esposa, Renata. Que Deus lhe dobre a paciência com minha bagunça!

Enfim, em todos esses anos de experiência de vida e estudo teimoso e persistente, amealhei uma quantidade absurda de papeis com anotações e rabiscos ininteligíveis, artigos jamais publicados, estudos ensaiados, aulas de EBD ministradas e mensagens que púlpito algum jamais ouviu... Meus talentos enterrados de estimação.

No último Dia das Mães, porém, meu irmão, o mesmo que brincava na casa do vizinho na noite que eu fugi de medo de minha morte imaginária, hoje pastor batista, me desafiou a desenterrar tudo isso. Mais; comunicar, repartir... anunciar. Sair da caverna da vergonha, descer da árvore de onde assistia Jesus passar. Ele estava certo e eu decidi encarar o desafio e correr o risco.

Qual risco? O risco de ser lido e se lido criticado. O risco de ser contestado e se contestado humilhado. O risco de me sentir ridículo e se envergonhado calar. Mas calar por quê? Num tempo em que ninguém se envergonha de dizer o que pensa sobre qualquer assunto, em que muitos expressam abertamente pelas redes sociais suas críticas, declaram suas predileções, anunciam seus sonhos, que demonstram até mesmo o que não são, por que eu deveria temer crer em público, pensar alto, falar sozinho... sentir como qualquer um, o que vejo como ninguém?

Então vai ser assim. Vou sonhar, vou contar, vou rever e acordar. Cantar em verso e prosa minhas desconfianças. Contar em histórias minhas suspeitas. Colocar em dúvida minhas certezas e me certificar de não me afirmar absoluto. Mas devo confessar que não me permitirei ser radical, na determinação de jamais o ser ou não.

Espero assim, que se você se interessar por esse blog, encontre nele um lugar aconchegante para suas idéias, estimulante para suas descobertas e, sobretudo uma cadeira a mais para puxar, se sentar e conversar.

Um Forte abraço.