Por Jânsen Leiros Jr.
Interessei-me por religião muito cedo.
Ainda menino, me flagrava pensando em assuntos que um garoto da minha faixa
etária jamais se ocuparia em pensar. Vida após a morte, reencarnação, espíritos
e morte, eram temas que se alternavam em minhas divagações, ainda que pelo
pouco conhecimento, minhas conclusões fossem superficiais e pouco convincentes
a mim mesmo.
À medida que eu crescia, também crescia
a lista de assuntos ligados ao “mundo religioso” a ocupar minha mente. E toda
vez que os adultos de minha família comentavam sobre algum desses assuntos, eu
parava qualquer brincadeira e encostava para ouvir, Intuitivamente buscava
referências.
Lembro, porém, que um determinado
assunto me incomodava mais do que todos os outros; a morte. Eu já tinha uns
treze ou catorze anos, não tenho como precisar, quando numa noite eu tentei
simular o que imaginava ser um “estado de morte”. Estava só à noite no apartamento
que morava com minha mãe e meu irmão na Rua Hermínia, e aproveitei para apagar
as luzes, deitar na cama, esticar o corpo (como via os corpos colocados nos
caixões), e fiquei quieto... bem quieto. Concentrei-me para não ouvir nada à
minha volta e tentei aos poucos esvaziar a mente de qualquer pensamento. Até
mesmo sobre o que estava pretendendo fazer. Não lembro exatamente que tipo de
sensação eu tive naquele instante, ou mesmo se a simulação funcionou, mas uma
frase cortou o vazio que eu tentei criar e eu pensei: Quando eu morrer não vou
mais existir! O susto que essa “revelação” me causou foi tão grande, e o pânico
de deixar de existir foi tão amedrontador, que acendi todas as luzes, corri
para o apartamento de um vizinho que morava no andar de cima, e fingindo querer
brincar com ele e meu irmão que já estava por lá, refugiei-me ali de meus
próprios pensamentos. No dia seguinte decidi que buscaria uma religião.
Outras curiosidades sobre essa fase,
contarei em outras oportunidades. Por hora é importante apenas mostrar como a
teologia, desde muito cedo, povoava meus pensamentos e estimulava meu desejo de
investigar seus mistérios. E olha que eu sequer imaginava existir a expressão
teologia.
Entrei para a Igreja Batista de
Cachambi aos catorze anos e logo me vi envolvido profundamente com tudo que se
referisse ao estudo da Bíblia. Convencido que era a Palavra de Deus, fui aluno
dedicado da Escola Bíblica Dominical – EBD, e desde esses dias a teologia é
minha paixão mais terna, mais cuidada, mais bem tratada.
Meus estudos avançaram, meu empenho
cresceu. A vida cotidiana por vezes ofereceu obstáculos e muitas pedras me
fizeram tropeçar. Ainda assim os livros sobre o assunto se multiplicaram, e
lidos se acumularam pelas prateleiras de minhas casas. Abertos e estudados, se
espalharam pelas mesas de estudo, desarrumando a casa tão bem cuidada e mantida
por minha esposa, Renata. Que Deus lhe dobre a paciência com minha bagunça!
Enfim, em todos esses anos de
experiência de vida e estudo teimoso e persistente, amealhei uma quantidade
absurda de papeis com anotações e rabiscos ininteligíveis, artigos jamais
publicados, estudos ensaiados, aulas de EBD ministradas e mensagens que púlpito
algum jamais ouviu... Meus talentos enterrados de estimação.
No último Dia das Mães, porém, meu
irmão, o mesmo que brincava na casa do vizinho na noite que eu fugi de medo de
minha morte imaginária, hoje pastor batista, me desafiou a desenterrar tudo
isso. Mais; comunicar, repartir... anunciar. Sair da caverna da vergonha,
descer da árvore de onde assistia Jesus passar. Ele estava certo e eu decidi
encarar o desafio e correr o risco.
Qual risco? O risco de ser lido e se
lido criticado. O risco de ser contestado e se contestado humilhado. O risco de
me sentir ridículo e se envergonhado calar. Mas calar por quê? Num tempo em que
ninguém se envergonha de dizer o que pensa sobre qualquer assunto, em que
muitos expressam abertamente pelas redes sociais suas críticas, declaram suas
predileções, anunciam seus sonhos, que demonstram até mesmo o que não são, por
que eu deveria temer crer em público, pensar alto, falar sozinho... sentir como
qualquer um, o que vejo como ninguém?
Então vai ser assim. Vou sonhar, vou
contar, vou rever e acordar. Cantar em verso e prosa minhas desconfianças.
Contar em histórias minhas suspeitas. Colocar em dúvida minhas certezas e me
certificar de não me afirmar absoluto. Mas devo confessar que não me permitirei
ser radical, na determinação de jamais o ser ou não.
Espero assim, que se você se interessar
por esse blog, encontre nele um lugar aconchegante para suas idéias,
estimulante para suas descobertas e, sobretudo uma cadeira a mais para puxar,
se sentar e conversar.
Um Forte abraço.